quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Paese de Cuccagna ou País das Maravilhas (e a pelagra)


                                    Paese de Cuccagna ou País das Maravilhas

     A topografia do Paese di Cuccagna é denominado por uma montanha, na verdade, um vulcão que expele, continuamente, moedas de ouro. Como variante, nas narrativas orais, a montanha já não é de ouro mas de queijo ralado. Quando chove, nesses país, chovem pérolas e diamantes, mas podem chover raviólis...

...Entretanto mesmo nessas famílias mais abastadas, a carne era um luxo. No ano de 1863, um jovem médico lombardo, Ezechia Marco Lombroso, realiza estudos sobre o estado da saúde dos camponeses vítimas da subalimentação e indica alguns possíveis remédios para “melhorar a condição alimentar desses infeliz povo camponês”. Sugere que, através de leis municipais, se  acrescente à farinha de milho, farinha de castanhas, de cevada e farelo para fazer esse “pão de bárbaros que é a polenta”. Propõe ainda que se popularize o uso da carne, especialmente de porco, de cavalo e de porcos da Índia. Recomenta o aproveitamento do sangue dos abatedouros, e o uso do leite, que é nutritivo e “muito melhor que a polenta”. A polenta, de fato foi por longos períodos, o único recurso alimentar dos pobres e, em consequecia, a  pelagra, um avitaminose, propagou-se assustadoramente nessas regiões.

        A pelagra é uma doença, que provocada pela carência de uma vitamina B, a niacina, contida na carne fresca. Como o milho é muito pobre em niacina, a pelagra propagou-se como uma epidemia nas regiões onde o milho se tornou o cereal mais importante, se não o único alimento.

         A pelagra, segundo a descrição do Dr. Lombroso, “manifesta-se inicialmente por uma indisposição  seguida de náuseas, dores de cabeça, e um estremo cansaço; depois borborigmos, diarreia, perda progressiva de memória e, na fase final, delírios com tendência ao suicídio”.

Diante desse quadro sombrio, não é de surpreender que as fantasias alimentares dessas populações fossem, ao lado da promessa de muita terra para cultivar, o alvo preferido dos propagandistas da imigração.

A memória coletiva dos habitantes da região colonial italiana, na serra gaúcha, parece não ter eliminado de todo o fantasma das carências alimentares de seus antepassados. Basta pensar como organizamos as nossas refeições, que no âmbito doméstico, quer nos restaurantes.

Bibliografia. Nós os ítalos-gaúchos. Ed.Universidade/UFRGS, 1996. Artigo de Cleodes Maria Piazza Júlio Ribeiro.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Oraciones

Preghiera de la note
                       Gema Frossa
vago in leto
con me angel perfecto
ter gracie li voglio domandare
confessione, comunione e olie santi.




Preghiera de la matina
madona pecinina
leva su la matina
primo far e primo dir
su la pietra de laqua santa
banhar-se bem el viso
para ndar nel paradiso

Nanetto Pipetta


 Tempo Aquiles Bernardi – Nanetto Pipetta  Continuação)

Frei Arlindo Itacir Battistel * conta como nasceu o personagem : “Frei Aquiles Bernardi era um homem sereno, alegre, vivaz e poderíamos dizer que era um frade feliz. Talvez fosse por isso que ele cultivava tão bem o humorismo. Bernardi não concebeu Nanetto como personagem de livro mas criou-o para um seriado do jornal Stafetta Riograndense. Ele, como sacerdote capuchinho, visitava as capelas dos imigrantes italianos que haviam se estabelecido na inóspida selva rio-grandense sofrendo por causa de uma reviravolta total em suas vidas, a começar pela troca do Hemisfério Norte pelo Hemisfério sul. Para o agricultor, essa troca radical dava um transtorno profundo, pois ele perdia a noção da época de plantio e colheita desde os cereaias até as culturas mais elementares de subsistência. Quando na Itália é inverno aqui no R Grande do Sul é verão. Por  isso, era comum que os imigrantes plantavam milho, trigo, ou outra cultura fora de época. Não colhiam nada. Isto chegava a ser ridículo. Eles desconheciam a forma de lidar corretamente com o corte das árvores e o manejo dos diversos tipo de madeira, além desconheceram completamente o comportamento dos animais selvagens. O desconhecimento do clima e do novo ambiente geral criava para eles situações embaraçosas, crônicas e até trágicas. A primeira coisa que o Frei fazia, ao chegar às capelas, era celebrar as cerimônias religiosas. Depois dedicava um tempo para convivência com os imigrantes, ou colonos como costumava chama-los. Na ocasião eles aproveitavam para contar ao Frei as aventuras e desventuras que lhes aconteciam. Frei Aquiles, visitava outras capelas, contava aos imigrantes o que tinha ouvido contar na capela anterior. Os ouvintes gostavam e aproveitavam para também para contar também as suas peripécias. Dai que frei Aquiles teve a licar brilhante ideia de publicar essas histórias no jornal Staffetta Riograndense. Mas havia um problema: se o Frei publicasse as histórias com nome das pessoas envolvidas, poderia ofendê-las, melindrar seus familiares ou desagradar os parentes. Foi então que o Frei concebeu o personagem Nanetto Pipetta, que representava os personagens reais. Tomava-lhes as histórias, mas deixava-os  no anonimato. Ouvia as histórias e as escrevia. Depois voltava para a capela e lia o escrito para os colonos que faziam observações e emendas. Somente depois disto é que as mandava para a redação. Quando Frei Aquiles publicou as primeiras histórias no jornal, logo foram lidas avidamente pelos imigrantes. Os pais, assinantes do jornal, após o jantar e a reza do terço, passaram a reunir a família ao redor da lareira e ler as aventuras de Nanetto Pipetta em voz alta. A alegria tomava conta dos ouvintes. Gostosas gargalhadas eclodiam noite a dentro. Em seguida os que recebiam  o jornal convidavam os vizinhos – que  não  eram assinantes – para visita-los  à noite, em filó, para ouvirem a leitura  das histórias. Diante delas, tão engraçadas, muitos começaram a assinar o jornal para lê-las em primeira mão. Houve então uma explosão de assinantes fazendo o jornal circular a mil. Por algum  tempo Nanetto foi o motivo pelo qual muitos colonos passaram a assinar o jornal. O sucesso de Nanetto foi total porque: 1º - Eram histórias reais encarnadas em Nanetto Pipetta. 2º - As ciam peripécias não aconteciam só para aqueles que contava as história ao Frei, mas aconteciam situações parecidas para vários outros imigrantes. Estes se sentiam encarnados na história, participantes. 3º - Era um aprendizado. Alertava os leitores para que não caíssem nas mesmas armadilhas em que Nanetto caía. Pipetta fez enorme sucesso porque o personagem estava profundamente enraizado na história do povo. O leitor sentia-se participante e cumplice. Tudo ia bem quando surgiu um problema que se “Invidia Clericorum”, isto é: Inveja Clerical. Seus superiores e o diretor do Staffetta se preocuparam com o sucesso do Frei, na verdade não procuravam isso, pois ele simplesmente queria divertir os imigrantes. Em nome de uma pseudo-intelectualidade do diretor e de um falso conceito de moralidade, entendeu que os artigos de Aquiles eram pobres, levianos, baixos e com certos termos vulgares e, portanto, imorais. Na verdade não havia nada disso. O certo é que o Frei Aquiles com seu Nanetto Pipetta incomodava o diretor do jornal que percorreu o caminho contrário de Frei Aquiles. Este escreveu o seriado do jornal, que depois se transformou em livro. O diretor, de um momento para outro, baixou orem para que Aquiles terminasse o seriado de Nanetto, já que ele publicaria um romance italiano no seu lugar. Aquiles ficou desapontado e muito triste, mas como bom capuchino obedeceu. Para expressar seu protesto, no último artigo do seriado, Aquiles fez Nanetto se afogar no Rio das Antas, sem receber a Unção do Enfermos, que para a época, era uma desgraça, pois representava a possibilidade de condenação eterna. O Staffetta Riograndense passou a publicar o seriado do dito romance em italiano gramatical, língua que  entre os imigrantes, não entendia.  Consequência: as assinaturas do jornal despencaram e houve  uma enxurrada de reclamações e protestos. Em vista disto, após algum tempo, os responsáveis pelo jornal retiram o dito romance italiano e pediram a Frei Aquiles voltar a escrever, mas desta vez, se comicidade, mais sensato, mais educativo. No entanto Aquiles havia pedido a empolgação, pois mataram seu maior tesouro: o senso de humor. Obedeceu e passou a escrever artigos sobre costumes, o progresso e a vida simples dos agricultores. Esses artigos depois  foram coletados num livro que se chama “Nino Fratello de Nanetto”. É um livro bom para entender a vida e os costumes dos imigrantes da época, mas não fez sucesso. O que ficou e continua mesmo é Nanetto Pipetta. Bem mais tarde, Frei Rovílio desafogou Nanetto Pipetta tirando-o do Rio das Antas e fazendo-o ressuscitar com o mesmo nome, o mesmo estilo, mas num ambiente moderno. Vários autores como: Grigolo, Grando, Gardelin e outro passaram a escrever novos seriados de Nanetto Pipetta que foram e estão sendo publicados no Correio Riograndense. Estas estórias estão sendo bem aceitas pelos assinantes na medida que os autores aproximam na medida que os autores aproximam seu personagem fictício aos personagens da vida real. Atualmnte há muitos leitores do Correio Riograndense que apreciam realmente o novo seriado de Nanetto Pipetta que continua bem vivo e sempre renovado.

Bibliografia:Revista INSIEME. A Revista Italianda Daqui. Nº 159 – Março – Marzo 2012.

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