sábado, 25 de abril de 2009

ESCOLA JOSEFINOS; PROJETOS SONHOS... QUE FICARAM NO PASSADO

ESCOLA JOSEFINOS; PROJETOS SONHOS... QUE FICARAM NO PASSADO
HISTÓRIA
Em 1914, a administração do município, através do Intendente municipal, Dr Nascimento, e o Bispo Diocesano de Pelotas, viabilizaram, com a Congregação São José, a fundação de uma escola agrícola. O objetivo era auxiliar na educação de crianças pobres e, ao mesmo tempo investir no desenvolvimento da agricultura na região. Nesse período a igreja de Rio Grande pertencia a Diocese de Pelotas.
Uma proposta inovadora na área educacional e, provavelmente, um projeto pioneiro na ação pedagógica e religiosa, sob o controle dos padres Josefinos no Brasil. A ordem era de Turim, na Itália, e os religiosos foram transferidos da Líbia (África) e dos Instituto Industrial para a Vila da Quinta . No dia 5 de Janeiro de 1915, chegaram os dois primeiros padres, começaram a missão no Rio Grande do Sul: Pedre Oreste Trombem e Giuseppe Longo.
Em fevereiro chegaram o padre Umberto Pagliane, superior encarregado da Escola, e o irmão Hermenegildo Guerrini.
No dia 21 de Abril de 1915, foi inaugurada a Escola agrícola na sede do extinto Posto Zootécnico, com uma área de 14 hectares. Hoje, está assim compreendida: à frente o Posto de Saúde e o Grêmio Esportivo Nacional e, ao fundo, a Usina de Asfalto.
Eles cultivavam mudas de árvores silvestres, frutíferas e ornamentais para consumo interno e comercialização. Diversas árvores frutíferas como videiras, pesseguesidros, romãzeiras, oliveiras e laranjeiras totalizam 300 pés de mudas, prontas para a lata de parreiras, com comprimento de 600 metros hoje, situadas na rua da usina de asfalto, no antigo horto municipal.
Hortaliças e vagem de leguminosas e cereais também eram cultivadas para as aulas práticas dos alunos ou para os experimentos e manejos técnicos das culturas então estabelecidas.
No começo, em 1915, a escola tinha 10 alunos internados e, paralelamente, era ministrada a aula municipal para alunos do sexo masculino, na qual os menores moradores da povoação da Vila da Quinta e do Instituto aprendiam elementos fundamentais da língua portuguesa, arithimeticu – assim era a escrita – e noções variadas na área da agricultura, perfazendo um total de 50 alunos.
Os propósitos de uma educação cívica e religiosa, alicerçada na moral cristã, tinha como meta fundamental a formação do caráter, O programa de preparação da Escola abrangia seis anos de ensino, divididos em dois cursos, o preparatório e o de capatazes sendo cada um deles com três anos de duração. Nos primeiros (professores e alunos) três anos, ensinavam português, arithimeticu, geografia, história do Brasil, caligrafia, desenho à mão livre, noções de fícica, química e artes manuais. Já no curso de capatazes, o referencial curricular era o da Escola de Engenharia de Porto Alegre. O modelo pedagógico era subdividido em módulos anuais: 1º Teoria, que seria a base de ensino como português, geometria, ciências naturais e desenho: 2º ensino Profissional, conhecimentos de semeadura, colheitas, poda, enxertos e experiências químicas / orgânicas, além de despesas, receitas e compilações de contas; 3º Zootecnia e Industria: raças de animais, coberturas, tratamentos externos, uso do método experimental e econômico, imunização, vacinas e soros. Nas industrias agrícolas, o aprendizado de enologia – preparo dos vinhos – atafonas, lacticínios, álcool, cidra e princípios de economia rural.
A educação passava por um refino estrutural jamais imaginado, pois ia do aprendizado tosco e limitado à capacitação profissional, em que distância e as dificuldades de acesso, além de não existir nenhuma prioridade de alfabetização, eram bem claras, para um projeto de experiências dos padres Josefinos que, na época, possuíam conhecimentos do mundo europeu. O índice de analfabetos ficava em torno de 70% da população rural.
Os padres Josefinos chegaram com sonhos, projetos, idéias, criatividade e investimentos públicos jamais vistos na região, com objetivos de aplica-los na escola. Apesar de tudo, o padre Umberto, talvez, tenha praticado o pecado de acreditar ao milagre da transformação. Em uma terra dominada por chefes locais, conservadores, coronéis e políticos descompromissados com a comunidade, com o tempo, rompeu-se a política da boa vizinhança. A administração da paróquia da Penha, criada em 1913, ficou sendo atendida pelos religiosos da ordem de são José, que abrangia a Igreja do Cassino, Taim, Quinta e Povo Novo. Portanto, um novo rumo evangelizador da igreja foi traçado. Passaram a funcionar o Apostolado da oração e Associação da Doutrina Cristã (catecismo), com as aulas da Escola Agrícola. Nessa época, em que foi criada a Boa imprensa, que propagava leituras e publicações da igreja católica no país, a qual criou um jornal chamado “Mensageiro Cathólico”. Caderno com relação dos alunos internos, Período entre 1915 e 1920
Entre tantas inovações estavam a Fabrica da Matriz, que cuidava dos bens da Igreja, digamos “Primor da Caridade”, uma espécie de pronto-socorro físico, moral e religioso aos pobres, doentes em suas residências. (Festa cívicas da Escola Agrícola em 1925. Jornal Mensageiro Católico da ordem de São José, editado entre 1916 a 1919. Segundo jornal editado na Quinta) Quem conheceu o Padre Umberto dizia que ele era um pouco homeopata, atendendo doentes da Ilha da Torotama ao Taim.
As transformações não foram só nas área da educação. Em 1922, a Ordem de São José de Murialdo deixou a Vila da Quinta. No entanto, nem a Escola, tampouco a Paróquia, estavam preparadas para a retirada dos Josefinos. Ainda não está claro o motivo da saída dos religiosos, mas estudos em andamento apontam para retaliações políticas da ação desagregadora do Partido Republicano, aliadas a lideranças locais interessadas na continuação do projeto da escola – porém, sem o seu cunho, religioso, então estabelecido.
O novo diretor nomeado pelo município, José Antônio Martins Carneiro, comandou a instituição até 1926, quando a Escola foi fechada definitivamente. Resultado: número reduzido de alunos, baixa qualidade no ensino, interferência política e prepotência administrativa fulminaram o projeto inovador que o município construíra.
Nos 90 anos da chegada dos Josefinos, a Banda Marcelino das Neves e seus instrumentos amarelos não se apresentaria, tampouco o Grupo de Teatro Fiasco com seu espetáculo dramático subiria ao palco, ou a equipe de ginástica faria apresentações para o público, tal como em tempos passados.
Foram sete anos de uma página de nossa história que, aos poucos, começa a ser resgatada. Os últimos alunos da Escola nos deixaram no ano passado: Marcolino Brancão e João Correia. Com eles, foram as últimas experiências narradas que estão arquivadas.
Do antigo prédio de dois andares e um conglomerado de oficinas e galpões, resta somente uma parede de 3x3 metros.
Nota: Existem trabalhos que estudam ou citam a presença da ordem de São Jose de Murialdo na Vila da Quinta, com visões e objetos de pesquisas diferenciadas. 1 – Araújo, Acienir Solano. Aspectos Históricos da Fundação Urbana da Vila da Quinta. Furg Cópia. Tese de especialização. 2 – Maier. Paulo Souza. Visão Histórica da Realidade da Comunidade de Nossa Senhora da Penha, Vila da Quinta. UFPEl, mimiografado, monografia, sem data. 3 – Mendonça, Cledenir Vergara. A Educação Distrital em rio Grande. Aspectos Históricos. Artigo não publicado 2004.
Por Cledenir Vergara Mendonça
Acadêmico do curso de História da FURG
Jornal ECO DO INTERIOR publicação
mensal distribuição gratuita 2005 nº 002
16 de agosto de 2005