domingo, 18 de outubro de 2009

RAYMUNDO ZANATTA (Elizabete)

ELIZABETE:
Bom dia!
Peço desculpas pela demora. Ainda tem interesse em saber da arvore genealogica? Bem, minha mãe é italiana da Sardenha, familia Matta por parte materna, ciade Santu Lussurgiu, picola cittá, invadida e construida por espanhoís, daí o nome e por parte paterna, Faotto, na região Norte da Italia, Udime, aqui no Br, é Fagotti. Por parte do meu marido Zanatta- Região Norte da Italia, Treviso. Consaegui a cidadania Italiana em 2000. Meu sogro era Raymundo Zanatta, de Santa Cruz das Palmeiras - SP;mas ele tem varios irmãos.
Bem, trocaremos mais e-mais. Abraços.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A SIMBOLOGIA DO MUNDO DOMÉSTICO DO IMIGRANTE ITALIANO

A simbologia do mundo doméstico do imigrante Italiano
Helena Confortin

Leopold Gflnner diz que “ um povo que não conhece e não preserva sua história é um povo sem passado, e um povo sem presente”. Objetivando manter viva a história do imigrante italiano e seus descendentes, este trabalho busca ser uma caminhada no tempo para fazer ver presente parte do mundo, especialmente o mundo doméstico, do imigrante italiano, e os costumes que constituíram a sua identidade socioeconômico e a cultura. Fazer o imigrante percorrer o caminho de volta e entrar em contato com o mundo dos seus antepassados é possibilitar-lhe repensar sua existência seus sentimentos, suas opiniões: é levá-lo a sentir-se parte integrante de uma história e cultura: é inseri-lo, como personagem, no “retrato de família” que o mundo dos objetos nos oferece...
Há outros parágrafos que não foram digitados...
Destaque especial será dado à simbologia dos objetos, aos universo das suas relações e significações. Assim, o corredor que unia as casas, além da sua utilidade, carregava a marca de uma cultura que queria preservar: a beleza da arquitetura, o cultivo do belo (nas flores), o aconchego (local para descanso). Ilustram a descrição, elaborada a partir de entrevistas com descendentes de imigrantes, fotos de ambientes com objetos antigos, coletados com os próprios informantes.

As casas: historicidade e valor simbólico

Sistemas de casas
As casas dos imigrantes italianos, além de ser abrigo, eram o verdadeiro “Lar”. Nelas eram acolhidas as visitas e realizados todos os acontecimentos importantes de seus moradores – festas de casamento, aniversários, nascimentos, mortes...
Por questão de sobrevivência, eram sempre construídas perto de fontes. Por isso, antes de iniciar a construção, era importante saber onde existia água boa. Devia brotar de um veio forte. Que não secasse no verão e que surgisse entre as pedras; a água seria mais saborosa e saudável.
Posenatto (1983, p 289) escreve que “as fontes estavam quase sempre em lugares desconfortáveis: então faziam as casas tão perto quanto possível, mas se a casa ficasse longe da fonte, não tinha importância, porque quem fazia a casa era o marido, mas quem buscava água com o bigolo, era a mulher”. Procuravam, sempre que a casa ficasse acima das fontes – talvez nunca tenham imaginado que um dia poderiam ter água encanada em casa – uma vez que acreditavam que se construíssem a casa ou o quarto de dormir sobre um veio de água, ainda que este passasse sob a terra, não dormiriam bem à noite, teriam pensado e poderiam resfriar-se.
As casas, como já foi dito, constituíam um complexo bastante significativo. Faremos, pois , a seguir, uma descrição detalhada de cada uma das partes do complexo habitacional do imigrante descendente de italiano do Rio Grande do Sul.
A casa para morar constituía-se, geralmente, de duas unidades: a casa-cozinha e a casa para dormir. A casa-cozinha era uma construção menor. Nela localizavam-se a cozinha, uma sala grande e um puxado (varanda). A sala era para os domingos ou dias festivos, para receber visitas e parentes, para as refeições quando houvesse convidados e para as moças namorarem. Nela havia uma mesa de centro com cadeiras, um guarda-louças e, às vezes, uma mesinha de cedro sobre a qual era colocada a máquina de costura.
A cozinha, geralmente uma peça bastante grande, era para todos os dias, para os dias-de-semana. Nela havia o fogão/lareira/chapa, a mesa e as cadeiras/bancos. A mesa, onde eram feitas as refeições, ficava perto de uma parede e, para economizar cadeiras, usavam um banco comprido encostado à parede (Foto 1). As pessoas, sentadas, apoiavam as costas à parede, tendo-a como apoio ou encosto. Aí sentavam-se as crianças. O chefe da família, geralmente, sentava numa ponta da mesa: à sua direita, a esposa; e os filhos pequenos perto deles. Na outra ponta era colocado a tabuleiro da polenta para que ficasse mais perto da lareira e facilitasse o despejo da polenta da caldeira pra o tabuleiro. Geralmente era a filha (ou filho) mais velha que, com um fio de linha, cortava a polenta às fatias e, com a mão, a colocava ao lado do prato de cada um dos que estavam à mesa. Num canto da cozinha havia a lareira ou fogão, onde eram cozidos os alimentos. No lado oposto, uma tulha para guardar farinhas 9trigo e de milho).
Anexo à cozinha, era desnível, localizava-se um puxado ou varanda – a que alguns chamavam de ‘stanseta’ -, muitas vezes construído por duas peças: uma para a despensa e a outra para o lavador ou pia da cozinha, o seciér. Esta peça tinha uma porta por onde estavam e saíam com água,lenha e outros objetos. O lavador, formado por uma tábua grande, forte e, em volta, por meia tábua, era levemente inclinado e terminava em ponta, através de uma canaleta por onde escorria a água que caía numa poça externa onde as galinhas e marrecos ciscavam e espalhavam a água, evitando, assim, a sujeira. Sobre o lavador eram feitas prateleiras para guardar os pratos. Passavam uma ripa em frente à tábua e lá apoiavam, enfileirados, os pratos. Penduravam ali, também a espumadeira, a concha, caneca... Num canto guardavam os lumes. Foto 2 ilustra a descrição.
Sobre a prateleira penduravam os baldes com água e, sob o lavador, as panelas com cabo: a da polenta, do feijão, as frigideiras e o tabuleiro. A mastela de lavar os pés era colocada no chão, debaixo do lavador. Para as demais panelas havia outra prateleira ou o paneleiro. As panelas eram mantidas limpas e bem areadas, esfregando-as com cinza da lareira. Na mesa das cozinha havia, geralmente, duas gavetas: uma para os talheres e outra para o pão, salame e o queijo (Foto 3).
A casa de dormir era maior que a da cozinha. Nela havia o porão onde eram guardadas as pipas de vinho, as ferramentas, os arreios para selar cavalos e, também alguns mantimentos: salame, queijo, vinho, graspa, caixões com trigo, feijão e arroz, já que a temperatura ali era mais baixa e os alimentos conservavam-se melhor. O chão era de terá batida; os cepos, grandes fortes e de cedro.
No primeiro andar da casa havia os quartos de dormir, uma sala igual a um corredor, de todo o comprimento da casa. De um lado, à direita, localizava-se o quarto do casal e, ao lado deste, o das crianças pequenas (para que a mãe ouvisse o choro, à noite). No lado oposto, havia outros dois quartos, geralmente um para os homens e outro para as mulheres. Em cada quarto havia várias camas, ou dormiam três ou mais crianças em cada cama.
As camas primitivas eram feitas de tábuas pregadas com uma caixa dentro da qual colocavam um colchão de palha de milho fina, feito em forma de saco, com quatro pequenas aberturas pelas quais eram introduzidas as mãos para afofar as palhas, quando de manhã eram ajeitada as camas. Os lençóis eram de algodão ou de “Amorim”, muitas vezes remendados, porque as crianças frequentemente tinha bichos de pé, o que dava muita coceira; e os pequenos esfregavam os pés nos lençóis, fazendo com que o tecido rasgasse. Ao travesseiros eram cheios de penas de pato e ou de galinha. Para o frio, usavam um acolchoado feito de lã de ovelha e o ‘piumin’ um edredom feito de pena de ganso ou pato, geralmente usado sob o lençol. A roupa era guardada em travessas de madeira colocada num canto do quarto ou em baús fechados. A roupa e “domingo” num guarda-roupa do casal (foto 4 – antiga cama de casal feita artesanalmente. Ao lado berço de criança.).
O segundo andar da casa de dormir era o sótão, ou sobrado. Chegava-se a ele por uma escada localizada no fundo da sala. Embaixo dela formava-se um espaço que as crianças chamavam de “castelinho” e onde se guardavam várias coisas. No sótão havia quatro janelas (duas de cada lado), dando para o sol: em duas incidia o sol da manhã e na outra o da tarde. No canto do sótão havia um quarto para o caso de haver muitas visitas ou para os peões. No espaço restante eram guardados mantimentos, sementes, amendoim, linho, trigo, arroz, erva-mate..., uma vez que o local era seco, bem arejado e seguro.
Unindo a cozinha à casa de dormir, era construído, um corredor, coberto, que ia da porta da sala grande à sala da casa de dormir. O corredor era ladeado por uma cerca de tabuinha, um portão de entrada, na frente as duas casas, um portão que levava para a parte dos fundos, na frente e, entre as duas casas, um portão que levava para a parte dos fundos. Ao redor do corredor havia grades decorativas, com formato variados e que também davam acabamento às casas. Sobre o parapeito e em volta do corredor eram colocados muitos vasos de flores, gerânio, jasmim, begônias, beijo, folhagens... O assoalho do corredor e as escadas eram brancos e esfregados com vassoura, palha de milho, sabão e cinza. O das casas era vermelho e nela passavam cera caseira duas vezes ao ano: No Natal e na Páscoa.
Ao redor da casa havia um “pedaço” de terra, o pátio, onde se cultivava um jardim, vários cinamomos ou plátanos que serviam para amarrar animais e para sombra. Havia também pés de flores grandes, bem como laranjeiras, pereiras... Mais adiante, separado por uma cerca – (stecado) feita de ripas de pinheiro, bem parelhas, com ponta na parte superior, presas em pranchões – sobre a qual era estendidas a roupa para secar), um gramado que servia para piquete e onde se localizavam o galinheiro, e os paióis... Mais perto da casa, o forno para o pão e uma casinha onde havia um panelão usado para cozinhar produtos diversos. Havia, ainda, a moenda de cana, um lugar para a lenha e os galpões, as estrebarias e os chiqueiros.
A casa representou, assim, a afirmação individual do imigrante como proprietário.

Objetos domésticos: a marca da afetividade
Lareira
Um dos objetos que mais carrega as marcas da afetividade do imigrante é a lareira (fogolaro, larin), centro de convergência da família. Era ali que, diariamente, ao escurecer, após um dia de trabalho duro na roça e após terem ordenhado as vacas e alimentado todos os animais, reuniam-se os membros da família e, enquanto homens e crianças conversavam e comiam o pré-pasto, as ocupavam-se da comida para a ceia.
Nos primeiros tempos o fogão doméstico era muito simples e rústico. Para fazê-lo, construíam uma caixa de madeira, sem fundo, que era enchida de terra. Na lateral que ficava perto da parede, era feita uma taipa de pedras para evitar incêndio. Sobre a terra faziam o fogo e, pra mantê-lo mais concentrado, cercavam-no de pedras, que também tinham a função de escorar as panelas. À noite, quando deitavam, era costume cobrir os tições com cinza; assim, as brasas mantinham-se acesas até a manhã seguinte. Sobre a lareira, nos caibros do teto, era amarrada uma corrente constituída por fortes argolas graduadas por um gancho especial que permitia levantar ou abaixar as panelas em relação ao fogo. Ali eram dependuradas a caldeira da polenta, as panelas do fogão e da carne, a chaleira... Para que essas panelas não balançassem, costumavam calça-las com pedras ou pedaços de madeira.
Um segundo tipo de lareira, um pouco mais aperfeiçoada, era a chamada ciapona – construída fazendo-se um quadrado de madeira, de pedras ou de tijolos -, cheia de terra, sobre a qual era colocada uma chapa de ferro ou pedras. Por uma porta, deixada na parte da frente, introduziam lenha e ou nós de pinheiro. Para cozinhar o restante dos alimentos, usavam o tripé (formado por três pés presos a um ferro que girava entre pés forma de espiral, e sobre o qual colocavam as fatias de polenta, o salame...) ou a grelha, a grade ou gradela de ferro feita com quatro pés sustentando uma pequena grade sob a qual eram colocadas brasas. Sobre esta grade, além de esperar polenta, salame, carne, passarinhos, punham as panelas de ferro ou de barro. Às vezes usavam frigideiras ou a lecarda (bacia de cobre) para aparar a gordura que escorria ou, então, deixavam-se cair na terra ou cinza. A Foto 5, antiga lareira com chapa de pedra, apresenta os principais objetos utilizados no preparo das refeições.
Em ambos os modelos, não havia chaminés, por isso a cozinha ficava totalmente esfumaçada, as paredes logo escureciam.
Para iluminar a casa, os imigrantes usavam os lumes ou lampiões a querosene. O lampião era dependurado num local estratégico da casa, entre a sala e a cozinha, e acesso quando a noite caía. Usavam-se, para as demais peças da casa, para a mesa, para o lavador...pequenas lumes a querosene ou a banha. Geralmente eram lumes rústicos, confeccionados em casa, usando vasilhas variadas onde eram colocados o querosene (ou banha) e um pavio feito com uma tira de pano.
De acordo com as posse do imigrante, compravam-se outras lumes, mais sofisticados e seguros. Eram um vasilha mais achatada e larga na parte posterior e, na superior, um tipo de pescoço por onde passavam o pavio e um cabo para segurá-lo.
O feral era uma espécie de lampião construído por uma armação de ferro em forma de caixa, com as laterais de vidro, um orifício na parte superior 9por onde saía a fumaça) e um cabo para carregá-lo. No interior da armação era colocado um pequeno lume a querosene. Usavam o feral para os serviços externos e para ir a filó. Houve imigrante que usavam, como lume, a casca de caramujo, El s-ciós. Limpavam-no, enchiam-no de banha, colocavam um pequeno pavio de pano e ateavam fogo nele. A Foto 6 apresenta três modelos de lume utilizados pelos imigrantes: o Lume 1 (primeiro da esquerda para a direita) é o ciareto a querosene; o lume (no centro) é o ciareto a banha e o lume 3 é o antigo lampião a querosene para ser dependurado na parede.
Os lumes foram, dentre os objetos aqui descritos e analisados, talvez os de maior simbologia, uma vez em torno deles que as pessoas se reuniam para as refeições, as orações, os trabalhos, as leituras, os estudos. Enfim, exigiam proximidade dos membros que os encontrassem no mesmo. O advento da luz elétrica quebrou este elo simbólico: a luz como centro de convergência das pessoas que se unem.


Maquina de costura e roupa
Toda a roupa para uso da família era confeccionada pelas mulheres (mãe ou filhas mais velhas), costurados a mão ou com a máquina de costura movida a mão.
A máquina de costura geralmente era peça de enxoval e ocupava lugar de destaque na casa. Colocada sobre uma mesinha (de cedro), servia para costurar roupa e chapéus de palha. O tecido para roupa era comprado em peças pelo casal, e geralmente eram tecidos grossos e resistentes; algodão para os lençóis: riscados para calças, camisas, vestidos (mesmo padrão para toda a família). Faziam-se também os colchões e os acolchoados com tecidos de brim listrado. Em prática, entre os imigrantes, que todas as mulheres aprendessem a costurar e a bordar. Às vezes era a mãe quem ensinava às filhas nos dias de chuva, à noite ou no período de entressafra, quando havia pouco trabalho na lavoura. Aprendiam a costurar calças, camisas, cuecas (mudande) vestidos, saias...Desmanchavam uma peça de roupa velha, passavam-na a ferro e sobre ela cortavam as roupas novas. Quando era possível, aprendiam a costurar com costureiras ou alfaiates. A Foto 7 mostra a máquina de costura manual a usada para costurar roupas e chapéus... Mesmo que em desuso, hoje a máquina manual é ainda objeto decorativo na maioria das casas dos italianos e constitui-se em objeto de trabalho e, até, de submissão da mulher.
Bordado a mão, crochê, macramê... eram aprendidos da mãe ou de amigas que trabalhavam à noite, à luz dos pequenos lumes a querosene e nas noites de filó


Filó a concretização da afetividade
A marca da afetividade presente nos objetos domésticos comentados concretiza-se no encontro que permite a troca de vivências e experiências. O imigrante e seus descendentes vivenciaram (e vivenciam) essa experiência em reuniões que remontam a seus antepassados.
Contam i=os primeiros imigrantes que, na Itália fizesse muito frio durante os três ou quatro meses de inverno rigoroso, as famílias pobres que não dispunham de aquecimento nas casas ou recursos para vestuário suficiente para se proteger do frio viam-se obrigadas a permanecer em recintos fechados. Assim, reuniam-se nos estábulos (das vacas) a fim de aproveitar o calor que delas se depreendia. Para não permanecerem ociosos, aproveitavam para tecer o linho, fiavam, isto é faziam os fios de linho, donde o termo filó (fare filó), usual entre os italianos.
A prática foi trazida para o Brasil. Como o frio não era tão intenso, não havia necessidade de permanecer em abrigos fechados. Mas, para estar pessoas, era importantes o convívio com vizinhos, parentes e amigos. Por isso, vigorou o costume de se reunirem à noite, cada vez na casa de um dos participantes. Cada um carregava sua cesta com os apetrechos para fiar. Para fazer o fio de linho, molhavam as fibras da planta, batiam-nas bem e, após,com um pente feito de pregos, abriam as fibras até ficarem fios. Depois, com o bilro de fiar, faziam o fio, primeiro mais grosso, depois mais fino, e o enrolavam num carretel.O mesmo faziam com a lã de ovelha com a qual eram, após, confeccionadas blusas para vestir (de tricô ou crochê) e os baixeiros para os animais. A Foto 8 mostra o primitivo tear usado pelos imigrantes para tecer o linho e ou a lã.
Esta prática do filó transformou-se com o tempo e passou a ser o “filó brasileiro” em que vizinhos, amigos e parentes reuniam-se uma ou duas vezes por semana (sábado à noite e lá pelo meio da semana). Se numa comunidade do interior vivessem oito a dez famílias, reuniam-se todas elas ou alguma; outras vezes, os parentes ou vizinhos mais chegados. Os encontros obedecem a um rodízio, alternando as visitas entre as famílias, aproveitando as ocasiões e as circunstâncias do momento.
O ritual do filó desempenhou um papel fundamental, pois foi graças a esses encontros de famílias que a história se manteve e passou de uma geração a outra. Os encontros não eram necessariamente para trabalhar, mas para trocar idéias, rir, comer, cantar, falar dos amigos e parentes deixados na Itália, do namoro dos filhos... Também eram discutidos assuntos referentes à colheita do trigo, da uva, à fabricação do vinho, aos serviços domésticos e de plantio. Os vizinhos ajudavam-se na trasfega do vinho, na arte de confeccionar cestos em vime, no conserto de equipamentos, especialmente os usados no trato com a parreira.
Filó era sinônimo de cantar (sobretudo que falassem da travessia do mar, do pais de origem, dos amores lá deixados – e que originaram o grande repertório da canções italianas hoje existentes), conversas, jogar e beber vinho ou tomar canja de galinha. Todos os italianos cultivaram seu parreiral e, por isso, havia vinho à vontade e o encontro podia se estender até maia-noite ou mais. Geralmente ficavam divididos os homens e as mulheres. Eles, na sala ou ao redor da mesa grande, conversavam, cantavam, jogavam cartas (quatrilhos ou escova), mora e bebiam vinho, cachaça e chimarrão... Elas as mulheres, ficavam na cozinha, em volta do fogão, e faziam trança (dressa) da palha de trigo ou de milho, cestinha de palha, chapéus ou crochê, macramê, bordados ou costuravam. Geralmente era nestas ocasiões que se confeccionavam as peças de enxoval das filhas. Enquanto trabalhavam, conversavam, controlavam as crianças e providenciavam os comes (bolachas, grústolis, amendoim, batata-doce, mandioca cozida, pinhão...) e os bebes. O vinho era colocado num balde e servido em copos ou xícaras e canecas.
Quando havia alguém de aniversário, faziam a festa surpresa e lá pela meia-noite, passavam o balde com vinho e as bolachas ou o brodo (canja de galinha), e todos comiam à vontade. As surpresas ou festas de aniversário aconteciam, geralmente, no dia do aniversário de um dos donos da casa. Sendo ‘surpresa’, ele não poderia saber da festa e, muitas vezes, com a ajuda de alguém da família, iam roubar-lhe as galinhas e depois, ainda diziam-lhe: “Magna, compare, Che te par magnar del tuo” (Come compardre, que parece estar comendo do que é teu). Faziam a canja servida com carne Lessa, pão. Bolachas e vinho.
Quando o grupo era numeroso e na casa havia a sala grande, faziam-se bailes familiares. Eram bem organizados, com gaiteiros e rodadas de doces, cucas, café, canja... Nessas ocasiões podia ser cobrada uma taxa para as despesas... e dançavam até a madrugada.
Os encontros aconteciam sempre à noite a fim de não perderem tempo destinado ao trabalho. Para se deslocarem, a pé, das casas, quando não havia luar e o trajeto era longo ou por estradas íngremes, os caminhos eram clareados com lampiões a querosene, o feral com ciareto – uma caixinha com laterais de vidro, contendo no seu interior uma lanterna protegida contra as lufadas de vento – ou a frizéle, feixes de ripas secas ou taquaras amarradas nas quais punham fogo. Faziam duas: uma para a ida e a outra para o retorno. Quem as carregava geralmente eram as mulheres, que iam à frente iluminado o caminho para o grupo: o homem não deveria temer o escuro.
O evento televisão matou quase em sua totalidade o ritual filó. Ela mudou sensivelmente a linha do tempo e grande parte da fisionomia histórico-cultural da cultura italiana. Alterou o costume arraigado entre os italianos, especialmente o encontro das famílias no filó, pois a mensagem visual da TV leva o homem a vivenciar o individualismo. Em nome do moderno, alteram-se muitos costumes que vão da estrutura da língua falada (o dialeto), do comparar pronto, da moda, até os valores vividos pelas famílias.

Conclusão

Quando mais se viaja no tempo, mais se tem não do verdadeiro sentido da perspectiva histórica que nos ensina a buscar, no passado, pressupostos para serem trazidos ao presente numa perspectiva de futuro.
O trabalho que aqui se conclui mostrou que o regate da memória é importante para que as gerações, atuais e futuras, compreendam melhor suas história, valorizem-na e possam melhorar o presente e o futuro alicerçada no exemplo deixado pelos antepassados. A historia é interprete do passado, testemunho dos tempos; quem não tem história não tem memória. A cultura de um povo só se pereniza mediante resgate de estágios precedentes pelos subseqüentes. O que se resgata e escreve pereniza. Este trabalho revelou características básicas presentes no dia-a-dia do imigrante e seus descendentes: observou-se que o imigrante viu-se obrigado a traduzir a subsistência diária mediante o próprio trabalho, a própria inventividade e, especialmente, a soma de mãos; observou-se a constante presença do trabalho de troca, de mutirão, quer para produzir mis para a subsistência, quer para manter famílias e amigos unidos; observou-se como o imigrante e seus descendentes criaram, a sua volta, um mundo de objetos domésticos aos quais atribuíram valor histórico (ambiência) e valor simbólico (o mito de origem).
Sentiu-se, sobretudo, a presença inconsistente da necessidade continuada de as famílias e as pessoas se encontrarem, buscando suprir o vazio imposto pelo isolamento dos primeiros tempos da imigração; apenas a fala e os objetos de trabalho unindo as pessoas.
Percebeu-se que, apesar de vivermos, hoje em um mundo tecnicista, de objetos descartáveis e, por isso, de valor descartável, apesar de esta civilização (tecnicista) negar a sabedoria dos anciãos, ainda há a consciência de que objetos antigos, mesmo que diferentes, fazem parte, eles também, da modernidade e dela retiram seu sentido. Cada objeto é como uma história que precisa ser conhecida e vivenciada. O objeto antigo não tem exigência de leitura; é a própria leitura, é lenda; significa o tempo; traz marcas de uma cultura, é instrumento de compreensão da realidade e, como tal, continuará vivo. Tem uma função especifica dentro do quadro do sistema: significa o tempo.
O objeto antigo protege o meio, esconde olhares sonolentos, gestos desajeitados. Preservá-lo significa um olhar para dentro, captando a carga de significados acumulados através do seu processo de criação e uso. Nele está visível a história de quem o criou e utilizou.

Referência bibliográfica
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1973
CONFORTIN, Helena. A faina lingüística: estudo de comunidade bilíngües italiano-português do Alto Uruguai Gaúcho. Porto Alegre: Edições EST/URI – Campus de Erechim, 1998.
POSENATO, Júlio. Arquitetura da imigração italiana no Rio Grande do sul. Porto Alegre: EST/EDUCS/Fondazione Giovanni Angelli, 1983.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Frei Paulo f. Zanatta

Jose Vital Zanatta

Boa tarde Padre Paulo

Espero que se enconte em boa saúde;

Padre Paulo, gostaria de um favor, que é o seguinte;

Na árvore genealógica numero 2 onde constra meu nome e meu E-mail , este e-mail não existe mais. Gostaria que no lugar deste,
seja o e-mail seguinte que é o meu daqui para adiante;
jv.zanatta@terra.com.br

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MAXIMILIANO ZANATTA E CAROLINA HILGERT

Oi Frei Paulo
Gostaria de saber, se tem como me informar dos meus antecedentes
pois sou bisneto de Maximiliano Zanatta, que era casado com Carolina Hilgert
e meus avós se chamavam Pedro Zanatta e Amanda Maria Drebes e meu pai
é Argemiro Zanatta o qual perdeu seus pais antes dos seus 10 anos e não sabe muito a
respeito, e seus 3 irmãos já são falecidos.Um abraço que Deus te acompanhe Cleomar Zanatta.

Por favor ajuda-nos a descobrir os descenetes e recontuir a àrvore genealógica dessa família